Entrevistas
Tibau aconselha Do Bronx a ‘não fazer guarda’ contra Makhachev: “Não seria inteligente”
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por
Neri Fung, em Niterói (RJ)
Oriundo do jiu-jitsu, Charles Oliveira provou dentro do octógono que é um dos lutadores que melhor adaptou as técnicas da arte suave ao MMA. Prova disso é que ‘Do Bronx’, como é conhecido, se tornou – já há alguns anos – o recordista de vitórias por finalização na história do UFC. Mas, para o importante confronto deste sábado (22), contra Islam Makhachev, válido pelo cinturão peso-leve (70 kg) da companhia, muitos acreditam que o caminho mais curto para o triunfo do faixa-preta seria evitar o jogo de chão, onde o russo também é forte, e apostar na luta em pé, na qual tem evoluído muito desde que passou a integrar a equipe ‘Chute Boxe Diego Lima’, em 2018.
Quem segue esta linha de pensamento é o experiente lutador potiguar Gleison Tibau. Em entrevista exclusiva à reportagem da Ag Fight, o ex-atleta do UFC exaltou a evolução mostrada pelo compatriota na trocação em seus últimos compromissos e aproveitou para aconselhá-lo sobre a melhor tática a ser empregada contra Makhachev neste sábado. Para ele, Charles – apesar de ter um jogo de chão afiado, deve evitar cair por baixo ou, pelo menos, ficar muito tempo nessa posição de desvantagem no solo, já que é justamente nesse tipo de situação que seu adversário se sobressai dentro do cage.
E Tibau opina com conhecimento de causa. Durante sua longa trajetória pelo UFC, que durou mais de dez anos, o veterano encarou tanto Islam Makhachev, quanto Khabib Nurmagomedov, ex-campeão dos leves e parceiro de treinos do oponente de Do Bronx neste sábado. Derrotado pelo primeiro por nocaute e pelo segundo em uma polêmica decisão dos juízes, o potiguar alerta para que Charles não caia na armadilha do russo.
“O Charles, nesses (últimos) cinco anos, foi um dos caras que eu vi mais crescer, mais evoluir dentro do esporte. É impressionante! É um cara que está completo. Não é um wrestler, mas consegue derrubar os wrestlers, está com um tempo muito bom de queda. Está com o striking afiado. E o jiu-jitsu nem se fala, realmente ele domina bem essa área. Eu gosto muito do Charles e ele está em uma fase muito boa. Psicológico bom, confiante e um lutador completo. Pode ser que o Makhachev o derrube porque tem, no papel, muito mais wrestling. Mas o Charles pode se virar ali. Mas eu acho que não seria uma luta inteligente ficar fazendo guarda (no chão)”, afirmou Tibau, que aconselhou o compatriota a focar mais na luta em pé e não aceitar a imposição de jogo por parte do rival.
“Porque o Makhachev é estilo Khabib. É um cara que não tem muito jiu-jitsu igual o Charles, mas tem uma pressão muito forte. Então, às vezes, quebra a técnica. É difícil pegar um triângulo (contra o Islam), um braço, não vai ser fácil. Se ele derrubar o Charles, vai querer amarrar, segurar, só trabalhando com inteligência e ganhando round a round. O Charles tem jiu-jitsu para ficar confortável, mas se ele vir que não vai ter nada, é subir. Porque se ficar ali (por baixo no chão), round a round, com a pressão (do Islam), vai se desgastando, perdendo potência… Fica um jogo bom para o Makhachev. Acho que seria uma luta para (o Charles) trabalhar mais a parte em pé e defender as quedas”, analisou o veterano, que atualmente tem contrato com o PFL.
A defesa de quedas, inclusive, foi parte fundamental do plano de jogo de Gleison Tibau para sua luta contra Khabib Nurmagomedov, em 2012. Contra o russo, que desde sua aposentadoria do MMA atua como treinador e mentor de Makhachev, o potiguar conseguiu a proeza de defender todas as 13 tentativas de quedas do adversário, marca que o veterano credita aos detalhes técnicos aprendidos por ele durante a preparação ao lado de grandes wrestlers norte-americanos. Mesma atenção que o experiente lutador torce para que Do Bronx e sua equipe tenham dado durante o camp para a disputa de cinturão do UFC 280.
“Não é fácil defender as quedas (dos russos). Porque os caras quando chegam parecem um trator mesmo, vai levando e leva. Eu treinei muito wrestling (para a luta contra o Khabib) com o Jordan, um americano amigo meu que é do time olímpico. Então, eu tive muitas oportunidades de treinar com esses caras muito bons de wrestling e peguei muitos detalhes, e fez a diferença. O Khabib ficou na pressão toda hora e eu fui me virando nos detalhes para me defender bem. Fez a diferença, porque se for trocar força toda hora é complicado. Mas eu acredito que o Charles está com bons parceiros de treinos, deve ter feito um camp sensacional, porque sabemos que não vai ser uma luta fácil. É uma luta dura”, concluiu Gleison Tibau.
Ex-campeão peso-leve do Ultimate, Charles ‘Do Bronx’ Oliveira perdeu o cinturão em maio deste ano, após uma polêmica falha na balança antes de sua mais recente apresentação. Neste sábado, o brasileiro tentará recuperar o título da categoria diante do russo Islam Makhachev, na luta principal do UFC 280, sediado em Abu Dhabi (EAU). Os dois atletas chegam embalados por longas sequências positivas. O paulista venceu seus 11 últimos duelos, enquanto o parceiro de treinos de Khabib Nurmagomedov saiu vitorioso nas dez últimas vezes em que pisou no octógono mais famoso do mundo, uma delas justamente contra Gleison Tibau, em 2018.
Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.