Entrevistas
‘Minotouro’ elege melhores momentos da carreira e planeja legado fora do cage
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por
Neri Fung
Após quase duas décadas dedicadas ao MMA profissional, Rogério ‘Minotouro’ Nogueira se prepara para calçar as luvas de quatro onças pela última vez neste sábado (25). No card principal do quarto evento do UFC na ‘Ilha da Luta’, em Abu Dhabi (EAU), diante de Maurício ‘Shogun’, maior rival de sua carreira, o meio-pesado (93 kg) busca conquistar a primeira vitória sobre o curitibano, após ter perdido os dois primeiros combates, e dar adeus ao esporte em grande estilo.
Irmão gêmeo de Rodrigo ‘Minotauro’, uma das maiores lendas do MMA mundial, Rogério poderia ter visto sua carreira ficar à sombra do membro mais famoso da família Nogueira, mas conseguiu trilhar seu próprio caminho e escrever sua história nos esportes de combate. Com trajetórias de respeito pelo Pride e UFC, dois dos maiores eventos de todos os tempos, combates memoráveis, como os dois primeiros diante de ‘Shogun’, além de uma passagem de sucesso, ainda que breve, pelo boxe olímpico, com direito a medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007, o baiano tem dificuldade em apontar o momento mais significativo de sua vida esportiva.
Em entrevista exclusiva à reportagem da Ag. Fight, ‘Minotouro’ citou sua consistência como um dos principais motivos de orgulho. A passagem pelo boxe amador também possui um lugar especial em sua memória, já que precisou começar do zero, mesmo já sendo um lutador de MMA consagrado. Por sua vez, o retorno ao MMA após a experiência na nobre arte, e mais especificamente a estreia no UFC, também é lembrada pelo meio-pesado com carinho.
“Acho que me manter lutando até hoje em alto nível, sempre no top da categoria, tanto no Pride como no UFC. O próprio boxe também. Ir lá e começar do zero. Fui campeão brasileiro, sul-americano, medalhista pan-americano. Depois voltei para o MMA, peguei o esporte em uma outra fase, com novos atletas, nova geração. E eu consegui me manter e fazer boas lutas. Tem as lutas memoráveis contra o ‘Shogun’, e outras. Acho que a estreia com o pé direito no UFC, no meu retorno, é um dos principais momentos da minha carreira. E o pan-americano, que teve um significado diferente. Eu comecei do zero, não foi fácil”, relembrou Rogério.
Se dentro do cage, ou dos ringues, o legado de ‘Minotouro’ está assegurado, independentemente do resultado do capítulo final da trilogia contra Maurício ‘Shogun’, fora dele o meio-pesado ainda aguarda a aposentadoria oficial para dar passos mais largos rumo aos seus objetivos. Ainda que nos últimos anos já tenha se dividido entre os papéis de empresário e lutador, o baiano admite que só conseguirá se dedicar 100% aos negócios e aos projetos sociais depois que fechar seu ciclo no MMA profissional.
Com a ideia de expandir ainda mais a rede de franquias da ‘Team Nogueira’ – academia da qual é dono ao lado do irmão Rodrigo ‘Minotauro’ -, Rogério destacou ainda os planos para contribuir com o futuro da sociedade brasileira, investindo em projetos sociais que levem melhor educação aos jovens menos favorecidos. Como não poderia deixar de ser, a implementação das artes marciais, e os valores que as mesmas representam, é peça fundamental para o sucesso dessa empreitada, na visão do lutador.
“Fora do cage eu ainda não fiz o meu melhor porque eu ainda acabo ficando muito dividido entre o foco de ser atleta e de ser empresário. Não tive tempo ainda me dedicar 100%, mas eu acho que o nosso negócio vai começar mais agora, quando eu parar. Seria essa nossa rede de academia, com 10 mil alunos, colocar um projeto social em seis comunidades. Acho que as coisas vão começar a expandir agora quando eu me aposentar e puder me dedicar 100%, com certeza. Eu me orgulho muito desse projeto que eu tenho com o Instituto (Irmãos Nogueira), onde a gente leva valores, leva as artes marciais para as crianças. Não é só ensinar o menino a lutar, é ensinar a ser um cidadão, a adquirir valores”, explicou o veterano, antes de continuar.
“A gente criou um negócio chamado ‘Momento do Mestre’. Ao final das aulas, o mestre fala com os alunos sobre um tema, cada mês é um diferente. Hoje ele pode falar sobre superação, amanhã sobre determinação, sobre disciplina, sobre empatia, trabalho de equipe. E a gente está com um livro infantil, voltado para isso. Talvez esse vá ser o nosso maior legado, meu e do Rodrigo. A gente entrou em uma coletânea de livros chamado ‘Esporte além da fronteira’. Esse vai ser um grande legado que a gente vai deixar. Vai ser lançado mais para frente. Eu tenho o sonho de ver as artes marciais sendo praticadas dentro das escolas, como ferramenta de educação. Para poder trabalhar a conduta, os valores éticos da criançada. No Japão eles têm isso evoluído, todas as faculdades americanas trabalham com luta, com esporte. Acho que falta isso aqui no Brasil. Falta esporte dentro da educação. É um trabalho que eu vou lutar para realizar”, prometeu Rogério.
No MMA profissional desde 2001, Rogério ‘Minotouro’ acumula um cartel de 23 vitórias, sendo oito por nocaute e seis por finalização, e nove derrotas. O duelo contra Maurício ‘Shogun’, marcado para este sábado, marca o final da trilogia entre os dois rivais. Em 2005, no primeiro duelo, tido como uma das maiores pelejas de todos os tempos, foi superado por decisão unânime dos juízes, ainda pelo extinto evento Pride. Já pelo UFC, dez anos depois, o resultado se repetiu, em confronto que levou o prêmio de ‘Luta da Noite’.
Nascido em Niterói (RJ), Neri Fung é jornalista e apaixonado por esportes desde a infância. Começou a acompanhar o MMA e o mundo das lutas no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, especialmente com a ascensão do evento japonês PRIDE.